O Hóspede Misterioso

O Hóspede Misterioso

Era uma noite chuvosa e fria quando o velho sino da recepção do Hotel Miramar tocou, ecoando pelo saguão vazio. O gerente, Sr. Almeida, olhou para o relógio: meia-noite. Nenhum hóspede costumava chegar àquela hora. Ele ajeitou o paletó e caminhou até o balcão.

Diante dele, estava um homem alto, usando um sobretudo preto encharcado pela chuva e um chapéu que escondia boa parte do rosto. Os olhos os únicos traços visíveis sob a aba do chapéu eram de um azul profundo e penetrante. Ele entregou um pequeno passaporte e disse com uma voz baixa e arrastada:

  • Gostaria de um quarto para esta noite.

Sr. Almeida hesitou. O hotel estava quase vazio naquele fim de temporada. O homem pagou em dinheiro, notas dobradas de forma precisa e impecável. O gerente entregou a chave do quarto 207, o único com vista para o mar.

Quando o elevador subiu, Sr. Almeida sentiu um calafrio. O homem não carregava bagagem.
E aquele nome no registro Victor Carrow  soava estranhamente familiar. Ele decidiu ignorar a sensação incômoda e voltou ao seu posto.

Na manhã seguinte, a camareira, Dona Zélia, foi até o quarto 207 para a limpeza diária. Quando bateu na porta e não obteve resposta, resolveu entrar com sua chave mestra. O quarto estava perfeitamente arrumado, a cama intocada, a janela entreaberta com o som das ondas batendo lá fora. No criado-mudo, havia um envelope lacrado com o nome “Sr. Almeida”.

Curiosa, Zélia levou o envelope ao gerente, que o abriu com mãos trêmulas. Lá dentro, havia um bilhete escrito à mão:

“Sr. Almeida,
O tempo é um ciclo que sempre retorna. Cuide bem do hotel. Ele guarda mais segredos do que você imagina.
Victor Carrow.”

O gerente sentiu um arrepio na espinha. Lembrou-se, então, de um antigo registro de hóspedes guardado no porão. Correu até lá e, após alguns minutos de busca, encontrou o nome: Victor Carrow havia se hospedado no Hotel Miramar exatamente cem anos antes, na mesma noite de tempestade e jamais fora visto novamente.

Naquela noite, enquanto Almeida fechava o hotel, uma rajada de vento fez o sino da recepção tocar sozinho. Ele olhou para o balcão e viu, sobre o mármore polido, a chave do quarto 207.

Victor Carrow tinha voltado. E talvez nunca tivesse partido.

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