Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira
O envelhecimento é uma conquista da humanidade, resultado direto dos avanços científicos, da melhoria das condições de vida e do fortalecimento das políticas de saúde pública. No Brasil, essa conquista chega acompanhada de desafios profundos. A cada década, a pirâmide etária se inverte: nascem menos crianças e vivem mais adultos e idosos. Essa transição demográfica exige não apenas ajustes econômicos e estruturais, mas sobretudo uma mudança de mentalidade. É necessário compreender que envelhecer não é sinônimo de incapacidade é uma nova etapa de experiências, saberes e contribuições sociais.
Historicamente, a sociedade brasileira sempre valorizou a juventude como símbolo de produtividade e beleza. No entanto, o século XXI inaugura uma nova realidade: segundo projeções do IBGE, em menos de vinte anos, o número de pessoas com mais de 60 anos ultrapassará o de jovens até 14 anos. Essa mudança traz à tona uma questão crucial: como o país pode se preparar para garantir dignidade, autonomia e participação ativa a essa população que cresce rapidamente? A resposta não pode se restringir a políticas assistencialistas, mas deve envolver uma transformação cultural, econômica e social.
O primeiro ponto de reflexão é a autonomia. Envelhecer com independência requer acesso a saúde de qualidade, moradia adequada e ambientes urbanos inclusivos. Infelizmente, muitas cidades brasileiras ainda são hostis aos idosos: calçadas irregulares, transporte público ineficiente e serviços de saúde sobrecarregados. Além disso, a desigualdade social agrava o cenário enquanto parte da população envelhece com conforto, outra enfrenta abandono e precariedade. Investir em políticas públicas que promovam o chamado “envelhecimento ativo” é, portanto, uma urgência. Programas de atividade física, centros de convivência, cursos de atualização e inclusão digital podem prolongar a autonomia e reduzir o isolamento.
Outro aspecto essencial é o combate ao etarismo, forma de preconceito ainda naturalizada na sociedade. Muitas vezes, pessoas idosas são tratadas como incapazes, desatualizadas ou um fardo econômico. Esse olhar reducionista desconsidera a vasta contribuição intelectual, cultural e afetiva que essas pessoas continuam oferecendo. Valorizar o idoso é reconhecer a história coletiva de um país. Empresas, por exemplo, poderiam investir em programas de reaproveitamento de talentos, onde profissionais experientes atuem como mentores, consultores ou educadores corporativos. Essa troca intergeracional enriquece as relações e mantém viva a conexão entre passado e futuro.
A tecnologia também surge como uma aliada poderosa. Se bem utilizada, pode reduzir barreiras e ampliar possibilidades. Aplicativos de saúde, plataformas de cursos on-line e dispositivos de acessibilidade digital tornam-se pontes entre o idoso e o mundo contemporâneo. No entanto, essa inclusão digital precisa ser acompanhada de políticas educacionais específicas. Ensinar o uso das novas tecnologias a idosos é mais do que capacitá-los é reafirmar seu lugar de pertencimento na sociedade em transformação.
Além disso, é imprescindível que o sistema previdenciário e de saúde se modernize. A sustentabilidade das aposentadorias e o atendimento médico de longo prazo exigem planejamento. O desafio não é apenas garantir benefícios, mas assegurar que a velhice seja vivida com qualidade. Isso passa pela prevenção, pela promoção de hábitos saudáveis e pela integração entre saúde física, mental e emocional. Um idoso ativo, bem cuidado e respeitado representa menos custos para o Estado e mais riqueza simbólica para a nação.
Sob uma ótica mais humana, o envelhecimento convida todos a repensarem o tempo. Em um mundo acelerado, onde juventude e produtividade são exaltadas, os idosos lembram que a vida não se mede em velocidade, mas em profundidade. O cuidado com quem envelhece é também um espelho de como cada um gostaria de ser tratado no futuro. Afinal, envelhecer é o destino natural de quem tem o privilégio de viver.
Por fim, as perspectivas sobre o envelhecimento no Brasil dependem de uma escolha coletiva: enxergar os idosos como parte essencial do presente ou relegá-los à margem. O futuro não se constrói apenas com inovação tecnológica ou crescimento econômico ele se sustenta na solidariedade, na memória e na sabedoria. Valorizar o envelhecimento é valorizar a própria humanidade. O Brasil que respeita e acolhe seus idosos será, inevitavelmente, um país mais justo, sensível e preparado para o amanhã.


